Prótese para o caráter

Olhando o mundo pela janela da imprensa percebo que a imprensa não olha para o mundo pela mesma janela que eu. O Direito, dito disciplina heterônoma, imperativo-atributiva, buscador da vida relacional e até interior da Humanidade com vistas ao bem comum, cede seu propósito à lei, a fim de que ela, sim, instale-se na busca incessante da igualdade e da liberdade. Uma cessão temerária. A lei nasce de homens. Algumas são boas, outras óbvias, outras lá são ridículas, outras abortam em projetos, outras não resistem aos interesses maiores. Leis como seus parteiros. Maioria das leis não deveria ser tão ruim como os homens que as criam ou pela imprensa que as apoiam, e mesmo as que nascem boas, ainda que passem, não escapam, submissas, às hermeneuticas, exegeses e outras interpretações que juristas e julgadores lhes conferem. E aí, ou definham, ou deformam. Como o povo. Muitas leis, milhares delas, não servem para nada nem ninguém, e quase nenhuma vocação possuem para o tal bem comum. Gente é gente em todo lugar. E enquanto houver gente que submete gente, que explora gente, que ignora gente, jamais veremos um mundo melhor, menos caustico, menos cruel. O poder de zelar pelo povo - não tutelar - está nas mãos de poucos. Alguns são íntegros. Outros não são, e não possuem qualquer perspectiva de cura porque, afinal, não existe prótese para o caráter fraturado. 

Gilson Froelich

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