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quinta-feira, 3 de março de 2011


Canto-te para que tu definitivamente existas
Canto o teu nome porque só as coisas cantadas
realmente são e só o nome pronunciado inicia
a mágica corrente
Canto o teu nome como o homem fazia eclodir
o fogo do atrito das pedras
Canto o teu nome como o feiticeiro invoca
a magia do remédio
Canto o teu nome como um animal uiva
Como os animais pequenos bebem nos regatos depois
das grandes feras
Canto-te
e tu definitivamente existes nos meus olhos
Sempre abertos porque é sempre os meus olhos
são os olhos da criança que nós somos sempre
diante da imensidão do teu espaço

Canto-te
e os meus olhos sempre abertos são a pergunta
instante pendente de eu te interrogar
e interrogo as coisas em seu ser noturno
em seu estar sombriamente presentes na tua claridade
obscura
E como é sempre
meus olhos abertos perscrutam-te
símbolo de tudo o que me foge
como apertar o ar dentro das mãos
e querer agarrar-te
oh substância
Canto-te
Para que tu existas
E eu não veja mais nada além de ti

Ana Hatherly

2 comentários:

  1. Querida Elly.
    É uma alegria enorme receber voce por aqui. Conquanto o poema de Ana Hatherly, que humildemente confesso não conhecer, seja extremamente bonito, bem escrito, num estilo que até aprecio, preferia mil vezes que voce tivesse trazido aqui uma peça poética sua. É que eu admiro demais sua obra, e gostaria de te-la presente aqui para ser divulgada e encantar a todos.
    De toda forma, é claro que eu agradeço sua postagem e, especialmente, a sua presença por aqui. Receba o meu carinho.

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  2. Exagerado o meu amigo Gilson!
    Bonitos são os seus poemas. A Ana Hatherly é escritora portuguesa (Porto, 1929).
    Obrigada, Gil!!!

    Retribuo o carinho.

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